– O que houve, princesa? – Perguntou Fábio, assustado.
– Eu é que te pergunto: o que tá acontecendo, Fábio? Maiara acabou de me ligar falando que você tá estampando jornal em Vegas e que tá sendo procurado… E você acabou de me falar que só saiu uma intimação, em quem eu acredito?
– Ela não devia ter feito isso.
– Me responde, meu!
– Ok, Clara. Eu estou sendo procurado, mas eu não fiz nada.
– Você já me falou isso uma penca de vezes e eu acredito em você, sou sua mulher e confio no que você me diz. Mas nós falamos dez minutos atrás sobre isso e você mentiu pra mim!
– Eu só não queria te preocupar. Preciso de você ao meu lado.
– Sem dramas, Fábio. Eu estou com você, mas isso não é problema meu.
– Eu sei que não é, só não quero me afastar de você e do bebê.
– Tem polícia atrás de você, logo vão descobrir que você tá aqui, não dá pra se esconder dessa gente… E como eu e o Pedro ficamos nisso?
– Eu vou proteger vocês, eu sempre fiz isso!
– Não é isso que está em cheque, Fábio! A sua atitude de não resolver isso é que eu não to entendendo. Como você pede pra eu acreditar em você e, ao mesmo tempo, tenta me convencer que é melhor continuar foragido? Acorda, Fábio!
– Eu não sei o que fazer…
– Sabe sim! E eu também sei o que farei.
– O que você vai fazer?
– Vou dar comida ao Pedro, arrumar umas coisas e ir pra casa da minha mãe. Você precisa pensar e acho que sozinho decidirá mais rápido.
– Você não pode me abandonar assim! Não pode levar o bebê!
– Claro que eu posso, ele é meu filho e eu quero ele bem!
– Achei que você ficaria ao meu lado.
– Eu to do lado certo, Fábio. E você não tá querendo fazer o certo.
Clara encerrou a conversa e foi preparar o café da manhã para Fábio, ela e Pedro. Ela comeu pouco, mas fez questão de sentar-se à mesa com o marido e o filho em seu colo. Foi uma refeição em silêncio, até Pedro parecia notar que algo estava muito errado.
Em seguida, Clara foi para o quarto arrumar uma pequena mochila de Pedro, também pegou algumas roupas para ela, enquanto Fábio dava banho em seu filho. Após a arrumação, Clara ligou para sua mãe:
– Alô, mãe?
– Oi, Clara! Tudo bem? Como tá meu neto?
– Tudo sim! Ele tá ótimo, tá tomando banho com o pai.
– Seu marido tá ai com vocês?
– Sim, chegou tem pouco tempo, mas acho que não irá demorar muito.
– Torcerei por isso! Mas aconteceu algo?
– Não, mãe. Só estava pensando em ir ai hoje com o Pedrinho, queria encontrar o pai e o Júnior. Quem sabe sair pra um almoço!
– Olha, seu pai não vai cedo hoje, mas o Juninho tá aqui e só fala em conhecer o sobrinho dele! Você lembra do endereço?
– Se for o mesmo eu lembro!
– Não mudamos nem a cor do muro! Venham almoçar aqui, não to muito disposta pra sair de casa, mas adoraria passar o dia com meu neto!
– Ótimo, mãe! Brigada pelo convite!
– Imagina! Espero por vocês logo menos, beijos!
– Beijo, mãe!
Sem trocar quase uma palavra com seu marido, Clara terminou de se arrumar e saiu do flat com Pedro. Ela estava confusa, não queria mais ouvir uma palavra sobre tudo o que estava acontecendo com Fábio. Sair de perto dele foi a melhor decisão para o momento. Clara sentiu que era necessário afastar o sentimento e deixar a razão sobressair.
Seguiu para a casa da sua mãe num táxi, evitando pensar em tudo que estava acontecendo com seu marido. Preferiu focar nela e em Pedro.
Clara chegou a sua antiga casa feliz da vida. Sua mãe e seu irmão, Júnior, estavam esperando por ela e por Pedro, fizeram uma folia com a chega dos dois. Tão simpático quanto a mãe, Pedrinho não estranhou a festa e a presença quase estranha de sua avó e do tio que acabara de conhecer.
Júnior estava radiante em encontrar Clara. Eles sempre se deram muito bem desde a infância, eram cúmplices em tudo. Apesar da mudança de Clara para Vegas, ela e seu irmão nunca se desgrudaram. Mais velho, Júnior sempre foi confidente de Clara e sempre a apoiou em suas loucuras, sem julgá-la, o que era mais importante.
O almoço em família foi um sucesso. Dona Rose estava satisfeita em reunir os filhos e o neto, tudo transcorreu bem, sem indiretas ou cobranças. Clara também estava feliz, apesar de tudo. Em momento nenhum falou a respeito do problema com seu marido, afinal, não era ocasião para isso. Além do mais, sua mãe nunca gostou do seu relacionamento com Fábio.
Não demorou muito e, ainda sentado a mesa, Pedro caiu no sono. Clara tratou de pegar o filho no colo e perguntou para sua mãe se podia coloca-lo em algum quarto para ele dormir tranquilo. Para sua surpresa, Dona Rose a levou até seu antigo quarto, conservado quase que do mesmo jeito. Clara sorriu, colocou o filho em sua antiga cama e voltou para a sala, onde estava seu irmão. Sua mãe ficou no quarto, fazendo carinho e observando Pedro.
– Ele é muito maior pessoalmente! E muito mais fofo! Que moleque lindo, Clarinha! – Comentou Júnior, todo orgulhoso do sobrinho.
– O Pedrinho é tudo na minha vida, é lindão mesmo!
– E o pai dele? A mãe falou que tá aqui, porque não veio junto?
– Ah, a gente tá se estranhando um pouco, ele tá cheio de problemas, achei melhor deixa-lo sozinho pra se resolver, antes de virar uma bola de neve.
– Sei como é. Já encontrou com sua turma?
– Nossa, sai com a galera ontem! Fomos num show no Inferno e foi muito bom rever o pessoal, tá todo mundo do mesmo jeito, isso é incrível!
– Então só falta você sair comigo! Que tal uma cerveja ali na esquina?
– Mas o Pedrinho tá dormindo, Ju!
– Não se preocupa, eu criei vocês dois, me lembro bem como olhar uma criança. – Interrompeu Dona Rosa, autorizando a saída de Clara com seu irmão.
– Valeu, mãe! Vou matar a saudade dessa pequena aqui, vamos, Clarinha! O bar é novo, você vai adorar!
Júnior puxou Clara pelo braço e os dois seguiram juntos para o bar ali próximo. Sentaram do lado de fora, próximo a calçada, e brindaram com um Chopp. Conversaram sobre o tempo longe, o nascimento de Pedro e sobre o futuro, até o assunto ser interrompido por Clara, que fixou seu olhar do outro lado da rua e sequer mostrou interesse na continuação da conversa.
– Isso só pode ser brincadeira. – Sussurrou Clara, o suficiente para Júnior escutar.
– O que houve, Clarinha?
– Tá vendo aquela mulher ali do outro lado da rua?
– Aquela com um cachorro?
– Essa.
– Sei… Inclusive acho que a conheço…
– Tá falando sério?
– Sim, não lembro o nome dela… Se for quem eu to pensando…
– Vanessa?
– Exatamente! Você também a conhece?
– Conheço pouco, mas conheço. Você a conhece de onde, Ju?
– Tá vendo ali na frente? Tem uma clínica veterinária, né?
– Tem sim…
– Essa Vanessa tá por aqui sempre, ela pega uns bichinhos na rua e tá sempre levando lá, é envolvida com ONG, com proteção aos animais, esse tipo de coisa. Ai como eu venho sempre aqui no bar, a gente já se esbarrou algumas vezes, eu já ajudei até em resgate dela, ela é muito gente boa, geral aqui conhece ela.
– Essa mulher não existe, cara. – Mais uma vez Clara sussurrou, surpresa.
– Oi?
– Eu fiquei com ela ontem, Ju… Terminamos a noite no maior climão e nossa… Que mulher! Me balançou pra caralho!
– Tá brincando?
– Claro que não!
– Vai lá falar com ela então, mano! Dae, Vanessa! – Júnior levantou da cadeira e gritou por Vanessa. Clara não estava esperando por isso.
Do outro lado da rua, Vanessa ouviu o chamado de Júnior e o reconheceu ao acenar. Ele continuou:
– Cola aqui, mano!
Clara continuava sem acreditar na reação do irmão, ficou nervosa e muito feliz, ao mesmo tempo, sem sequer entender a razão daquela sensação. Enquanto Vanessa atravessava a rua, Júnior olhou para Clara e falou:
– Resolve teu problema, Clarinha.