Eu queria muito ser uma estrela… Assim, feito tantas outras, no céu de uma noite negra e infinita, para não sentir essa saudade devorando minhas entranhas. Afinal, eu seria apenas mais uma estrela, igual a todas as outras absolutamente tão desconhecidas e irreconhecíveis. Quem sabe então, eu pudesse ser compreendida. E meu mundo não seria esse breu… E minha música não seria tão triste… Assim, como que chorando pelo amor, que morreu!
Hoje, passei o dia pensando em uma maneira de entender a vida. Não uma maneira de entender a mim, não! Até porque isso às vezes parece nem ter importância diante do berro da angústia que explode no meu peito. Da dor lancinante que me esmaga. Do dilacerar de minhas veias a romper e a jorrar essa dor em vermelho, manchando o tapete da sala. É um mar rubro, seguido da inconsciência. A doce inconsciência dos que não desejam mais sofrer, daqueles que desejam adormecer e não mais sonhar. Mas na verdade eu só queria ter entendido você! Queria ter mergulhado dentro dos teus “eus”, todos e te reencontrado entre eles.
Queria no meu íntimo, resgatar momentos nossos e ver passarinhos onde caem pingos dessa chuva que congela tudo, clareando a incompreensão de uma, pelo universo da outra. Mas tudo o que tenho são lágrimas. Essas que me acompanham desde o dia que você partiu. Essas que se tornaram minhas fiéis companheiras, inseparáveis.
O amor é mágico… O amor é medo e é dor. E por conta disso, eu queria encontrar e puxar a ponta deste fio que nos separa e deixar correr solto entre meus dedos, o novelo que enrola a minha vida a falta que a sua me faz, e assim eu me esqueceria em você…
Tenho andado em praias solitárias nas quais os meus dias se tornaram e nos minutos em que piso na areia, sinto cada grão deste vazio que machuca e sangra não somente meus pés mas também minha alma. As lembranças que chegam em ondas, respingam desiludidas nas frias pedras da minha realidade num lamento sofrido de quem chama o amor de volta… E ele não vem.
Nossa casa hoje não tem flores. Nem tem mais jardim… As luzes se apagaram e eu já não me lembro mais do seu perfume. Estou perdida! Sem chão… Sem calor… Sem janelas. Só lágrimas, tentando encostar meu corpo e me aconchegar neste vazio e no desânimo da minha entrega. E então novamente me corta o peito uma dor fina, branca e fria como uma adaga que entra na minha carne deixando um buraco por onde vazam todas aquelas promessas não feitas e por isso, não cumpridas.
A minha vida vem e cobra sua presença e é violenta a minha dor ao sentir que tuas risadas viraram ecos, ressoando dentro das minhas veias, formando teias que se espalham e entopem os meus espaços interiores, impedindo-me de sentir. Anestesiando tudo. E insiste a saudade, a ausência.
Tudo se torna vazio, meus olhos já não enxergam, minhas mãos já não tocam, já não possuo mais voz.
Sou uma casca, oca, sem vida, vagando por esse palco a que muitos chamam de vida. Onde essa atriz já não quer mais atuar e nem subir ao palco.
Quero apenas descansar ao teu lado e assim adormecer com a ilusão de que ao acordar terei os teus olhos a me encarar e os raios de sol a invadir o nosso quarto.
Mas já não existem mais os olhos e muito menos os raios a iluminar o nosso dia. Tudo é noite, uma noite sem estrelas e sem lua. Negra, vazia, inerte. Assim como eu estou sem você aqui.